A Seleção Nacional não é moeda de troca — o dever institucional dos grandes clubes
Por Luís Miguel Fernandes de Oliveira, Advogado
5/7/20252 min read
Nos últimos dias, fomos surpreendidos com o anúncio por parte do Sport Lisboa e Benfica da sua indisponibilidade para ceder o Estádio da Luz para jogos das Seleções Nacionais, incluindo os escalões jovens. A justificação invocada pelo clube prende-se com um protesto contra alegadas decisões injustas de arbitragem, em particular as ocorridas na final da Taça de Portugal.
O futebol português não pode, nem deve, ser refém de caprichos institucionais, por muito legítima que seja a indignação de um clube perante determinados factos. A Seleção Nacional representa um desígnio superior, que transcende rivalidades, emoções clubísticas ou conjunturas momentâneas. É o símbolo máximo da identidade desportiva de um povo, e merece respeito total e incondicional por parte de todos os agentes, especialmente daqueles que mais beneficiam da sua visibilidade e estrutura competitiva.
Convém recordar que, nos termos do Artigo 72.º do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol, a recusa injustificada de cedência de recinto desportivo à FPF constitui infração disciplinar, punível com interdição do estádio de 1 a 3 meses e multa entre 10 e 20 unidades de conta. Isto não é uma mera previsão académica: é uma norma com força obrigatória, aplicável a todos os clubes, sem exceção.
Mais do que isso, existe uma obrigação moral que decorre da própria razão de ser do desporto: promover o talento, a formação e o espírito de coesão nacional. A recusa em ceder o estádio para jogos das camadas jovens da Seleção é, além de juridicamente questionável, eticamente inaceitável. Significa colocar o interesse imediato de um clube acima da construção de um projeto desportivo coletivo. É, em última análise, usar a Nação como arma negocial.
Se o Benfica entende que foi prejudicado — e tem todo o direito de se insurgir — o caminho adequado é o recurso institucional e legal, jamais a retaliação simbólica contra a estrutura federativa em forma de boicote às seleções. A democracia desportiva exige responsabilidade, contenção e, sobretudo, compromisso com a verdade desportiva.
A direção do Benfica está no seu direito de protestar. Mas não está no seu direito de sequestrar os interesses da Federação ou da Seleção Nacional para expressar desagrado. O prestígio dos grandes clubes mede-se também pela sua capacidade de agir com grandeza — especialmente nos momentos difíceis.
É tempo de distinguir entre luta por justiça e atitudes infantis de ruptura. A Seleção não é moeda de troca. É património nacional.